quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Carta aos Meus filhos #20

Meus queridos,


A mãe é agora uma mulher.
A mãe está também, simultaneamente, mais jovem. Parece que está dez anos mais nova.
A felicidade tem dessas coisas.
Precisava tanto de ser feliz...
Precisava tanto de luz e doçura na minha vida.

Fora de tudo, fora da vida querer recompensar-me ou não...

É possível. É possível que alguém nos faça estupidamente felizes e que sejamos capazes de fazer o outro sentir-se do mesmo modo. Não é cegueira, nem ingenuidade.
Talvez seja um bocadinho precipitado, mas quando é a coisa certa o universo grita para que lutemos por isso.

A mãe é maluca e nunca disse que não a um desafio.
Vejamos o que a vida lhe guarda.

Abraços,


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Carta aos meus filhos #19

A mãe está feliz.

A mãe está tão feliz que passa o dia inteiro a sorrir e a sonhar acordada.
Tão feliz que nem consegue escrever, nem ler, porque por uma vez a vida dela é o espaço confortável onde ela quer estar.

Por favor, nunca deixem de acreditar na benevolência das intenções do mundo nem duvidem da eficácia dos atalhos, dos recanto e dos becos na construção de um caminho maior.

A mãe...
Que seja eterno enquanto dure.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Carta aos meus filhos #18

Meus queridos,

A mãe está calada porque a vida dá muitas voltas. É deixá-la andar e ver onde nos leva, sem revelar trunfos e fraquezas. A mãe… o coração da mãe não está morto.
A vida tem um sentido de humor perverso e o alinhamento das coisas… bom, o alinhamento das coisas garante-me que há um plano e que ela sabe o que está a fazer. Eu, contudo, precisaria de subir ao andar mais alto de um arranha-céus para compreender o que está escrito.
A mãe está feliz. Descobriu uma nova pessoa que lhe traz conforto. Além dessa nova pessoa, há outras que estão sempre por cá. Apesar de um tanto abatidas, e até desencontradas, estamos todos à procura de nós próprios. À procura do nosso lugar no mundo. À procura de nos encontrarmos, por fim, numa qualquer esquina da cidade de todos os dias.
Hoje recebi dois telefonemas a respeito do gato. O primeiro foi a dez minutos de sair para ir almoçar, pelo que corri como uma louca até ao quintal onde, pressupôs-se, o Napoleão estaria estendido a apanhar sol. A asma enganchou-me a garganta e pensei que morria, mas sorria enquanto corria, e estava sol e, por uma vez nesta semana, não só não tive frio como me senti inundada de calor. Quando cheguei ao dito quintal, o gato em questão tinha fugido. Vi-o de relance e não me pareceu o meu. Chamei-o e ele não respondeu.
À tarde, faltava meia hora para sair do trabalho. A senhora garantiu-me que era o meu gato, sim, sim, é ele, sim, sim, tem a mancha triangular no nariz, sim, sim, chamei Napoleão e ele veio. Merda. Não era ele e eu corri tudo desde uma esquina de avenida em hora de ponta até ao beco onde julguei que iria reencontrar o meu pequenino. Não era ele.
O avô senta-se na escada, contempla o quintal e os telhados da vizinhança e eu estendo-lhe um bombom ainda na caixa. Ele olha-me nos olhos ao metê-lo na boca e diz:
- Custa-me estar aqui sentado. Estou sempre a pensar no gatinho.
Pois a mim custa-me estar em todo o lado, porque assim que me sento em casa começo a falar sozinha, esquecida de que ele já não me ouve, de que ele já não conversa comigo.