A mãe mudou muito nos
últimos dois meses.
Em primeiro lugar, tem
uma gatinha nova. Chama-se Joséphine, faz hoje uma semana e um dia que está
connosco e já começou a dar retorno. Trouxe felicidade, preocupação colectiva,
risos, piadas, pescoços esticados para a ver, costas curvadas para que possamos
espreitá-la por debaixo da mesa. Um gato traz sorte e é algo de místico. A
vossa bisavó Norvinda pega nela ao colo, acaricia-a, dá-lhe biscoitos para gato
e lamuria-se com um riso num canto dos lábios. Diz que até o gato tem dinheiro
a guloseimas e ela não. Então, a mãe comprou-lhe um chocolate de leite da
Nestlé; primeiro porque a placa da avó não lhe permite comer chocolates com
frutos secos, segundo porque o bisavô Américo trabalhou na fábrica da Nestlé
durante muitos anos e levou muitos destes para casa.

O avô Jorge, de quem a
mãe tem tão poucas boas coisas a dizer, merece aqui uma menção pela positiva.
Fez uma caminha para a Joséphine, recortando-lhe um rectângulo num cesto muito
antigo que a mãe trouxe da Tenência. Filhos, em 2002 a mãe sentou-se nas ruas
de uma pequena aldeia algarvia, rodeada de senhores que não sabiam ler e que
teciam poemas de memória, e admirou a agilidade das suas mãos que entrelaçavam
cestos. Esse cesto foi agora tornado num pequeno palácio para a minha princesa. Chama-lhe "porta-chaves", o que é a coisa mais carinhosa que o ouvi chamar a um animal. Às vezes finge que tem alguma coisa para fazer no meu quarto só para vir vê-la, incapaz de resistir ao impulso de estender a mão e acariciá-la.
A mãe passou por uma
fase muito má e viu com quem pode contar. De repente, nem tudo era
negro. Há muita gente que se preocupa comigo e devo retribuí-lo sendo o mais
feliz possível.
A mãe voltou a
acreditar que vocês venham um dia cair nos meus braços, e … surpreendam-se! A
mãe sempre se achou uma durona, mas perante os olhos dilatados do Napoleão e a
barriguinha em alvoroço da Josie, a mamã mal consegue dormir de preocupação. Pega neles e telefona para os veterinários de Almada, corre para lá. Torna-se a crazy cat lady que, no fundo, é só uma mulher protectora a lutar pelo bem-estar dos seus protegidos. Mal consigo ignorar-lhes os gemidos por atenção, por colo, por carinho. E se a mãe se tiver tornado assim com vocês também? Se for a galinha superprotectora que sempre esperei não ser?
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A chuva já não me traz melancolias,
empurra-me adiante. A mãe, por fim, está em paz e aprendeu a esperar.
A mãe tem um lindo plano de futuro e até já comprou uma varinha mágica.
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