domingo, 29 de março de 2015

Carta aos Meus Filhos #76

A mamã está cansada da vileza das pessoas. Quando julgamos que já foram o pior que poderiam ser, reinventam-se e surpreendem-nos pelo pior uma vez mais.
A mamã tem envelhecido, ficado mais amarga, mais cínica, menos crente. Mas há uma coisa que não muda: a forma como sinto o amor.
E nada se pode comparar à pureza de se querer somente bem a alguém.
A mamã sente o amor por entre as suas arestas, como brisa marítima numa casa de tabuínhas. Força alguma no mundo pode levá-lo de mim. Mesmo sabendo que esse amor poderá não me levar a lado algum, a perspectiva de não o sentir é demasiado assustadora: deixaria de ser eu. Uma vez quase me esvaziei dele... e o que aconteceu? A mamã perdeu-se de si.
Um amor sólido é aquele que nos traz de volta a nós próprios...
A mãe não sofre.
Mas ama. E, quando se ama assim, todo o universo está em harmonia para que nenhum passo em falso magoe aquele que amamos.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Carta aos meus filhos #75

A mamã está bem.
Tudo tem corrido relativamente bem; na escrita, nos tempos livres, etc.
Os problemas financeiros estão a regularizar-se e este mês paguei tudo e mais alguma coisa. É uma sensação de alívio enorme!
As gatas continuam malucas e destroem-me a casa toda. À noite enrolam-se na curva do meu braço.
A mamã cortou o cabelo, mas não por causa de um desgosto amoroso, como foi hábito.
Quero fazer amor com o vosso pai.
Tenho medo da possibilidade de nunca vir a fazer amor com o homem da minha vida...
Preciso de fazer exercício. A barriga não pára de crescer e tenho dificuldade em passar as calças nas ancas. Há muita gente que não tem escrúpulos na hora de me chamar gorda. A mamã finge que não se rala muito. Não é que me preocupe em parecer bonita, ou feia. Mas não quero parecer desleixada. A minha vida não é passada no sofá, como a minha forma pode levar a crer...