Ontem a mãe portou-se muito bem.
Foi
ao Hospital dos Capuchos a pé e regressou a pé. Percurso Chiado, Rossio,
Restauradores, Avenida da Liberdade por ali acima. Depois Avenida da Liberdade
por ali a baixo, Restauradores, Rossio, Baixa, Praça do Comércio, Rua do
Arsenal, Cais do Sodré. Pelo
caminho admirou as montras, e não só. Sofreu três tentações às quais resistiu
heroicamente.
Primeiro uma montra enorme, ao lado dos CTT dos Restauradores, anunciava livros com 50% de desconto. Entre eles A Queda dos Gigantes, do Ken Follett a quem a mãe se recusa a render-se. O que a tentou mesmo foi “O Inverno do Nosso Descontentamento”, do Steinbeck, a 7€ e pouco. Um clássico a esse valor, as páginas branquinhas e perfumadas a exigir ser lidas... Que força de vontade que é preciso ter para abandonar assim um livrinho indefeso.
Primeiro uma montra enorme, ao lado dos CTT dos Restauradores, anunciava livros com 50% de desconto. Entre eles A Queda dos Gigantes, do Ken Follett a quem a mãe se recusa a render-se. O que a tentou mesmo foi “O Inverno do Nosso Descontentamento”, do Steinbeck, a 7€ e pouco. Um clássico a esse valor, as páginas branquinhas e perfumadas a exigir ser lidas... Que força de vontade que é preciso ter para abandonar assim um livrinho indefeso.
Já
no caminho para baixo, a Sea Side anunciava descontos mirabolásticos. Na
realidade a mãe não entrou na loja para ver sapatos, mas sim porque uma cigana
a abalroou com falsificações de óculos Ray Ban. “Olha aqui linda, olha aqui
minha linda. Vê só…põe só… não usas óculos, linda? Há uma primeira vez para
tudo!” e a mãe deu meia volta nos calcanhares e enfiou-se na Sea Side do
Rossio. Lá estavam elas. As sandálias com as quais a mãe andava a sonhar desde
que as viras na loja da Sobreda. “Mint”, nº 36. Último par. A um preço equivalente ao
PVP habitual de um livro. E a mãe a pensar “tão baratas, e tão bonitas”. Sim, calcei-as
e fui ver-me ao espelho. Que saltinho dourado tão perfeito… Passei em revista,
mentalmente, a série de vestidos que ficariam a matar com essas sandálias.
Pensei nas que tenho e nas que destruí em Fátima graças a um pontapé numa
pedra… Sim, Fatinha, é verdade que não acendi as velas que prometi, mas sou boa
pessoa e não merecia que me arruinasses as sandálias novas! Depois devolvi-as à
caixa e ao seu lugar perto da montra. Respirei fundo e enfrentei uma nova ronda
de assédios da cigana.
O
objecto que me custou mais foi um vestido cor de café com leite perfeito.
Designer brasileiro. A minha loja favorita da Rua Augusta, única, com peças sem
igual. Uma golinha de missangas, um tecido leve que ficaria bem na minha pele e
melhor ainda com um batom vermelho. É o género de vestido que faz uma mulher
como a mãe – estilo chinela, t-shirt
e calça de ganga - parecer uma princesa composta. A mãe acariciou-o, tirou-o do
cabide. Preço? Uma toalha de rosto. Um par de chinelas. Dois almoços no
McDonald’s. E a mãe desistiu dele. Sentiu-se liberta e frustrada ao mesmo
tempo.
A
mamã desistiu do lindo vestido num primeiro andar, ao cimo de umas escadas
sonhadoras de madeira envernizada, e saiu da loja.
Não
comprou nada.
As
minhas obrigações agora são para com a casa.
São
para com o vosso futuro.
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