segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Carta aos meus filhos #88



O último mês tem sido surrealista. Daqui a dois dias, faz um mês (31 dias) que a mamã está a trabalhar sem descanso. Vamos totalizar estes dias em horas de trabalho: 248 horas, e isto supondo que só trabalhei 8 horas por dia, coisa que deve ter sido mais excepção do que regra. Significa que, no último mês, a mamã trabalhou pelo menos 250 horas… Há 29 dias que não sei o que é ir almoçar onde me apetece, ou andar de pijama o dia todo por casa, ou deitar-me duas horas mais tarde para poder ver um filme, ou para terminar um livro de enfiada. O balanço negativo é que falhei, pela primeira vez, o aniversário da Vanessa, uma amizade com pelo menos doze anos de aniversários sempre celebrados juntas… E também que houve momentos em que julguei que desfalecia de terror ou de exaustão. A RATALMA (empresa de táxis de Almada) deve ter dado bónus a todos os seus taxistas por causa desta cliente, que praticamente todos os fins-de-semana lhes ligava por volta das 07:00 para pedir um taxi para Cacilhas...
O balanço positivo é impossível de enumerar:
- Descobri capacidades que desconhecia;
- Conheci pessoas espectaculares com a mesma capacidade de trabalho que eu e outras com capacidades superiores;
- Descobri que posso conduzir o meu cérebro como quiser, o leme está afinado, a direcção idem, e consigo ir onde quiser desde que me convença pelo prisma correcto;
- Ganhei muito dinheiro e investi-o na casa de banho, o que espero que mais tarde se traduza numa casa mais confortável para vocês, filhotes;
- Como a casa de banho estava em obras, tomei banho nos horários mais esquisitos na casa da avó N., o que significa que não há um momento ideal para nos pormos a mexer em direcção a melhorias em casa ou na nossa vida em geral, nada da preguiça do "agora vêm as chuvas", ou "estou demasiado ocupado para mover as tralhas e escavacar as paredes";
- No meio do frenesim, adquiri conhecimentos preciosos sobre o meu país e fui a inúmeros sítios, alguns foram mesmo pisados várias vezes;
- Fui a Santiago de Compostela, conheci outra alma que anda neste caminho há tanto tempo quanto eu, e fiquei a arder por percorrer as estradas do Caminho de Santiago;
- Aperfeiçoei imenso o meu italiano;
- Conheci italianos de Veneza, italianos de Piemonte, italianos da Puglia, polacos, espanhóis, galegos, alemães de Munich, de Colónia, de Frankfurt, franceses de Lyon, etc., etc...
- Por muito que te esforces, haverá sempre quem ache que deverias ter-te esforçado mais: mas nada de nos irmos abaixo, o nosso limite só nós conhecemos;
- Li um livro inteiro, por muito que seja um romance light - tinha 420 páginas, por isso repensem bem se não lêem por falta de tempo;
- Comecei o Mestrado em História Contemporânea, com as dores de cabeça e dúvidas que daí hão de advir;
- Consegui sorrir, no meio disto tudo;
- Não chorei;
- VOTEI!, por isso, se voei da Batalha para Almada para votar, e se às 17:30 ainda estava em Alcoentre à beira da estrada, de braços cruzados, enquanto se decidia quem ficava em terra por falta de bilhete e quem embarcava no Expresso (sendo que a mamã viajou no lugar do guia!!!), não há motivo para nos estarmos a marimbar para o futuro do nosso país e dos nosso FILHOS.
A mamã tem a força de mil homens! :)