Acham que a mãe está a conseguir fingir bem que é feliz?
Deixem-me descrever-vos o que pode acontecer:
Vocês são jovens, têm os vossos vícios e manias.
Dificilmente se apegam a alguém.
A mãe conseguiu ultrapassar esse obstáculo duas vezes. Da
primeira vez, quase morri quando acabou. Nunca tinha sido tão feliz e nem podia
acreditar que fosse possível ser-se.
Desta vez não houve ilusões: a mamã cometeu a estupidez de
se apaixonar de novo. Sabe que ainda consegue desligar esses fusíveis no seu
peito, mas não é isso que importa. Algumas pessoas gostam de ser infelizes. Gostam de viver a recordar o passado. A mamã já viveu de recordar (e escrever e reescrever o passado). O que importa é que, a cada vez que a mamã
se engana, a cada vez que a mamã sofre, a cada vez que não me amam de volta,
fico mais longe de vocês. Tenho menos coragem para ficar e ver no que isto dá.
A mamã pode ser muito egoísta quando diz que só quer ser
feliz… Na realidade quero uma casa sem discussões, com um amor silencioso que
viva da paz intrínseca a duas pessoas que não vão a lado nenhum.
A mãe sente uma agonia constante. Apetece-me chorar (o que é
trágico). Apetece-me dormir (trágico ao quadrado). Apetece-me desaparecer (trágico
ao cubo).
Acho que entendem a ideia.
Sem comentários:
Enviar um comentário