Hoje vou escrever
sobre o amor, o sexo e os homens. Em 2016, se uma mulher gostar de um homem
durante demasiado tempo, e ele não retribuir o sentimento, ela é uma rejeitada.
Há-de ser vítima de risos, de dedos apontados, de piadas atrás de piadas. Os amigos que tiverem pena, não quiserem partir-vos o coração, vão dizer que vai acabar tudo bem. Quem tiver predilecção pelas pequenas crueldades, vai rir-se e esfregar-vos na cara o nome da sua última conquista e as posições em que têm dormido juntos. Tudo isto deve ser ignorado: afastem-se do ruído e sintam o que a vossa consciência já sabe.
Como
sei que serão fortes, se isto acontecer convosco, agarrem-se ao facto de
saberem que um grama de amor genuíno é o vosso maior triunfo e tesouro, mais
raro no mundo do que o petróleo pelo qual tantos esgrimam. De certa forma, o tipo que amarem é um privilegiado. Mal o dele se não se dá conta disso e ainda sai pelas ruas a queixar-se que está tudo perdido porque as pessoas são incapazes de amar. Ou talvez seja uma daquelas pessoas tão obcecadas com ser diferentes que se perdem de si próprias e deixam de saber reconhecer o bem quando este lhes é dirigido.
Muitas vezes, isso
será o vosso único consolo. Saberem que são capazes de amar quando tantos se
sentem perdidos quanto a afectos. Não condenando quem se apaixone muito, ou com facilidade, ou
quem tenha várias relações “assumidas”, toda a gente acha mais natural que uma
rapariga de 25 anos tenha tido cinco namorados do que achará se souber que teve
cinco “casos”. É a fronteira da menina decente para a perdida. Mas pior pode
acontecer.
Se vocês forem
persistentes o suficiente para lutarem pelo que querem, podem até acabar por
ser felizes nas entrelinhas. A vida tende a enviar prémios de consolação, de vez em quando. Podem acabar por entender que, por muito que o
amor a essa uma pessoa seja sagrado e por isso difícil de arrumar para o lado,
há todo um horizonte mais além. Se forem honestas convosco próprias e com os vossos
desejos, saberão sempre quando é hora de dizer sim e quando é hora de se
negarem. Saberão a quem fechar a porta e a quem convidar para o vosso santuário. NÃO DEIXEM DE SE DIVERTIR PORQUE ALGUÉM TEM MÁ OPINIÃO DE VOCÊS.
Se alguma vez puderem ter cinco minutos com a pessoa que desejariam que ficasse
convosco para o resto da vida, não hesitem. Se forem mulheres modernas,
aprendam a lidar com o depois: não deixem de arriscar por medo de não serem capazes de viver convosco depois de uma decisão tomada, e não deixem de viver com base nos medos e nos limites que tinham estabelecido para vocês mesmas. Ultrapassem-no com graça e perdoem-no por ser
mais fraco e menos subtil na hora de arrumar os cacos. Perdoem-no se sentirem que o ofenderam naquilo que ele achava que o
fazia forte: a resistência. Se ele for um homem inteligente, em breve vai descobrir que tudo na vida é imprevisível. Que tudo muda de rumo. Que as promessas de ontem serão quebradas deste ou do outro lado. Que, no final, alguém tende a ficar com os dois pássaros a voar e um par de mãos vazias para contemplar. É matar ou morrer. Quando um relance de felicidade passa, segurem-na!
Perdoem-no se, depois de confrontado com a vossa
honestidade e a vossa abertura a tudo o que é bom na vida, vos chamar de vacas. Ou
vos mandar calar a boca. Ou não vos olhar nos olhos. Pode acontecer. Por isso perdoem-no se ele se tiver convencido de que
a vida dele deve seguir para Este e vocês forem um farol a Oeste. Que devem a um homem que vos falta ao respeito quando lhe deram tanto?
Desistam dele
quando a estrada chegar ao fim para vocês, e não porque todos os outros vos
pediram (às vezes imploraram) que o fizessem. Orgulhem-se de terem estado lá. Dois, três, cinco anos,
quase uma década. Duas, três, a vida toda. Não importa o quanto. ORGULHEM-SE de vocês próprias por
buscarem satisfação no que a vida estende à vossa frente, sobretudo quando não
criaram as oportunidades, quando não forjaram momentos, mas os mesmos vos foram
estendidos porque vocês os mereciam. Ou porque estava escrito, e tudo tem um motivo na Ordem das coisas. Cinjam-nos com as duas mãos.
Sejam exigentes e generosas convosco
próprias. Há um limite de lágrimas que uma pessoa pode chorar por outra. Um
oceano deve bastar. É vosso direito e vosso dever o pegar nas vossas horas e fazer delas o que quiserem.
Só se dêem a quem
vos respeitar e a quem tenha também algum respeito próprio – ou a quem quiserem dar-se, nem que seja se para poderem sorver os
recantos desses minutos na memória, pelo resto dos vossos dias, até que a sanidade vos falte.
Uma mulher
sozinha não está só. Tem o seu vinho e o seu jazz. Tem o seu companheiro da meia-noite,
nem que seja o respeito próprio quando as portas se fecham. A mulher tem tanto direito à vida no Oriente
quanto aqui, no Ocidente. E está acorrentada em todas as latitudes. A sociedade ainda não parou de julgá-las. Eu mesma já
dei por mim a julgá-las. Reflectindo no assunto, julgo mulheres que abdicam da própria dignidade para matar a fome do corpo. Mulheres que dormem com os homens por quem os corações das
amigas batem; mulheres que não se coíbem de saciar as vontades à frente da
filha menor num espaço público, mulheres que não se conhecem a si próprias e se apaixonam quatro vezes num ano.
Sejam confiantes.
Parem de repensar na cabeça o que poderiam ter feito melhor para ter sido
aceites pelo tal. Que se foda o tal. Se fosse mais bonita. Se tivesse mais
dinheiro. Se fosse doutra religião. Se não tivesse gatos. Se não tivesse
barriga. Se não tivesse o nariz torto. Se tivesse outra família. Se não fosse tão impulsiva. Se não fosse loira quando ele prefere morenas...
O homem que está
guardado para vocês – e tudo acontece por um motivo, reafirmo – vai fazer-vos sorrir. Vai
chegar e vai fazer-vos sentir-se bem instantaneamente. A mamã sabe que é possível. A mamã já viu o destino a tecer estas malhas várias vezes. O
homem que vos merece – aquele que Gabriel García Márquez diz que nunca vos fará
chorar – jamais vos chamaria de putas. Jamais o insinuaria. Jamais, em momento
algum, o pensaria. Por ter-vos tão alto, por vos louvar - há um certo fado, uma certa queda para a tragédia, em ser-se mulher - eleva todas as outras mulheres também. O homem que é vosso, e sempre foi, está feliz por saber que passaram pelos vossos dias em pleno. Jamais levantará a voz para dizer uma palavra que seja contra o nosso género; e se levantar fará rapidamente um parênteses para vocês e para a mãe.
Vão tentar cingir-vos ao código de ideias deles. Vão tentar ver-vos sozinhas, presas às normas e ao que é
esperado para uma menina de família, para uma menina de boa-educação, para uma
menina católica, para uma menina que não bebe, não fuma, não fode, não usa mini-saia. Vão perguntar-vos quando arranjam alguém, sem saber que estão livres para arranjar quem quiserem.
Não fiquem na prateleira para sempre, enquanto os homens procuram arrumar as
ideias na cabeça e andam por aí a rebolar de bêbedos e a beijar umas enquanto
apalpam outras, sob a indulgência e o riso fácil da plateia. Dêem uma machadada na prateleira.
Não sejam uma mulher que não pode dar-se ao homem que deseja sem que seja uma vaca. Sobretudo se esse homem não concebe que a mulher em questão o quis sempre em todos os dias da sua vida, com ou sem o apimentado do desejo sexual. Se ele vos chamar de vacas, ergam a mão e façam-na estalar na cara dele. Só porque algumas são mesmo e os traíram. Ele que seja maior que isso, que ultrapasse! Que aceite que o erro foi sobretudo seu, porque não é lá muito bom a julgar pessoas e as pessoas tendem a trazer a sua natureza à superfície.
Saibam que fizeram
tudo o que tinham a fazer – e que isso basta de consolo. A mamã aprendeu isso mesmo. Foi uma lição importante. Amor é coisa de sorte mas sexo é coisa de pele, e por enquanto é feio que uma mulher seja menos do que virginal. Ou comprometida. Não se neguem coisa alguma por um princípio que vos impuseram.
Respeitem-se a si próprias, não façam favores
nem fretes. Não percam a dignidade. Fiquem ao lado de quem vos chama bonitas
com o olhar, e que com isso não esteja a falar dos vossos olhos nem dos vossos
seios. Enquanto esse não vem...
Dou-vos uma palmadinha nas nádegas e fico a ver-vos sair do quarto:
Vão: sejam felizes.
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