O
dia hoje foi longo. Começou com a mãe a despertar pela primeira vez na sua casa. Esteve muito calor, tanto que a mamã se refugiou na casa
nova o dia inteiro. Antes entre a frescura dessas paredes, a trabalhar, do que
estendida e a amolecer, como se derretesse em banho-maria, na casa da bisavó.

Convenço o avô a furar a parede da cozinha para pendurar uma calha que
servirá para os escorredores de loiça. Qual a minha surpresa quando, pouco depois
de ouvir a broca a funcionar, oiço o equivalente a um repuxo na minha cozinha. O jacto de água ia de uma ponta à outra da cozinha, atravessando-a em largura. Muito bem, muito bem. Muito
bem, furámos um cano. Acontece a todos, certo? O avô ficou chateado. Diz que o cano é de plástico, dos modernos, porque se fosse de ferro, sendo a broca para pedra, teria era queimado a ferramenta. Temos que tirar azulejos - haverão iguais? E temos de reparar o cano. Ele baixou a cabeça e queixou-se do azar que tem. A mãe ouviu os risinhos das tias Ana e Cláudia, para quem tudo tem solução fácil, porque são meras espectadoras e não intervenientes. A mãe sentou-se nos ladrilhos da cozinha a fazer cálculos mentais. É capaz de ter enterrado a cabeça nas mãos por um bocado. O avô pergunta porque estamos para ali prostradas, umas a rir e outras sem reacção, porque não vamos buscar a esfregona e damos conta do problema imediato, que é o chão encharcado?
A mãe não pode permitir que isso
a deite abaixo. Pôs-se de pé e foi acabar de pintar a despensa. Não pode permitir que isso a deixe em baixo. Mas preciso que
saibam que foi difícil. É difícil ter meia dúzia de tostões na conta a meio do mês quando
trabalhamos tanto e nos parece que trabalhamos desde sempre. É difícil precisar
de ir ao médico mas pôr a casa à frente. Daqui por diante será assim.
Quando fechei a porta de casa e vim embora para o forno que é o primeiro andar da bisavó, observei o chão riscado da sala, os pedaços de cimento e areia que arranquei com a espátula ao tecto da marquise, os ladrilhos pintalgados de tinta branca no corredor, o furo de onde jorra água (caso a mesma não tivesse sido fechada), a cozinha prenhe de chaves philips e chaves de fendas, espátulas, latas de tinta, lixas, buchas, parafusos e pregos, lençóis de plástico pintalgados de tinta. Parece tudo mais caótico do que nunca e a mãe prestes a começar uma nova semana, isto é; sem tempo de endireitar as coisas.
Tudo isto são degraus. Cada problema a seu tempo. A mãe resolve – sobe – um a um. Até chegar a vocês.
Quando fechei a porta de casa e vim embora para o forno que é o primeiro andar da bisavó, observei o chão riscado da sala, os pedaços de cimento e areia que arranquei com a espátula ao tecto da marquise, os ladrilhos pintalgados de tinta branca no corredor, o furo de onde jorra água (caso a mesma não tivesse sido fechada), a cozinha prenhe de chaves philips e chaves de fendas, espátulas, latas de tinta, lixas, buchas, parafusos e pregos, lençóis de plástico pintalgados de tinta. Parece tudo mais caótico do que nunca e a mãe prestes a começar uma nova semana, isto é; sem tempo de endireitar as coisas.
Tudo isto são degraus. Cada problema a seu tempo. A mãe resolve – sobe – um a um. Até chegar a vocês.
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