Parte II - Brescia
Estou a ficar uma cagona com a
idade. Conduzir tira-me da minha zona de conforto. Não estou habituada e não
lido bem com a imprevisibilidade. Não sei onde estou e inquieta-me ser eu a
disturbar o fluxo do trânsito. Tenho sorte – muita sorte – por não entrar em
pânico e por manejar mais ou menos bem os carros. Posso pôr as mudanças tarde,
e etc., mas quando me sinto no limiar dos nervos consigo segurar o volante mais
um bocadinho até poder parar e respirar ou chorar ou seja o que for. Tenho de
procurar o lado positivo disto. Tenho estado atenta e saio com relativa
facilidade dos problemas em que me meto. Hoje tive de guiar quarenta e cinco
minutos na auto-estrada. A cada instante dizia-me que faltavam menos km.
Faltava menos tempo. Fui quase sempre na faixa do meio, mentalizada de que os
outros hão de me contornar por onde entenderem. Numa saída da auto-estrada, fui
para as máquinas dos camiões para validar o bilhete. Tenho sempre de sair do carro porque a minha mão
não chega à máquina. O senhor atrás foi simpático, esperou e entendeu de
imediato que eu não fazia ideia do que estava a fazer. São muitos anos na
estrada, suponho. Noutra saída afastei-me da direita porque estavam a entrar
carros de uma faixa de aceleração. Depois o GPS disse que a minha saída era já
ali, e tive de me meter para a direita meio à bruta. Coitada da rapariga que me
apitou. Juro que os nossos carros ficaram a meio braço de distância. Não
acredito no Deus das igrejas, mas sei que tenho uma estrela. Sempre tive. Obrigada,
estrelinha. Sei que estás aí a todas as horas. A minha família tem uma espécie
de maldição em cima, mas há essa força boa a contrariar tudo e a pedir-nos
calma e fé. Vou ter fé que amanhã vou conseguir guiar três horas com
serenidade. Vou fazer planos para parar a meio, porque ir ali hirta uma hora já
foi demais. Detesto guiar à noite, não vejo nada. Além de que vou sempre com a
impressão de que as minhas luzes estão mal. Não devia ter ido ao google ver os símbolos, porque agora
percebi que estiveram mesmo mal. O lado bom é que serão só quatro dias a
conduzir, e um deles já passou. Agora faltam três dias, só. Mais ou menos oito
horas na estrada e acabou-seo meu suplício. Sempre gostei da ideia de conduzir
e sempre tive um certo desprezo às pessoas que não conduziam por medo. Achava
(e acho) que os medos são para ser ultrapassados. Porém o medo não é
propriamente uma coisa racional. Só não posso deixar que me paralize.
Entretanto, mal posso esperar para largar o raio do carro e ficar sozinha com 10kg
em cada mão nos transportes públicos…
Assim que isto acabe, duvido que toque num carro tão depressa. Acabou-se-me o encanto pela condução. Admiro todas as pessoas que se metem ao volante de um, à mercê de todos os malucos que por aí andam, sem a mais vaga ideia do que estão a fazer. Como eu.
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